Sobre a História dos fracos
Como é normal dizer-se, dos fracos não reza a História, que é feita dos sucessos e insucessos dos grandes e poderosos. São estes que, concepção geral, fazem avançar a História! Porém, e como já dizia num poema Bertold Brecht, «Em cada década um grande homem./Quem pagava as despesas?»
Assim é. Durante toda a História, os grandes pugnam por não serem esquecidos, tentam de todas as formas libertar-se «da lei da Morte». O que acaba por acarretar o resultado sobejamente conhecido: os reais praticantes de todos esses feitos fantásticos (os «fracos»), caem no mais completo esquecimento. Os grandes têm como tendência inscreverem os seus nomes nos anais da História, olvidando-se os que estiveram por detrás dessas conquistas. Só explorando os mais fracos é que os fortes conseguem sê-lo. Por outro lado, aqueles que têm a seu cargo os ditos anais da História acabam por contribuir para isso, menosprezando o papel dos explorados na criação das grandes obras.
O que depois acontece não é difícil de adivinhar: os mais fracos acabam por se habituar a essa posição de total subserviência, e não mais desejam fazer sentir a sua força por detrás dos números. É pena que os fracos tenham perdido a consciência da dita força; por outro lado, os poderosos nunca puderam esquecer este potencial problema: desde o «pão e circo» dos Romanos até formas mais modernas de controlo (Religião, Comunicação Social, etc...), os poderosos sempre pugnaram pelo apaziguamento das massas para que o seu poder não fosse subitamente abalado.
Então, porque nos queixamos da nossa impotência, quando estamos mergulhados num potencial enorme de poder, seja ele de que tipo for? Muito simplesmente porque «os fracos» preferem esquecer, de forma mais ou menos voluntária, aquilo que possuem. Por comodismo, encostam-se à sombra daquilo que os mandam fazer e demitem-se das suas responsabilidades, a não ser quando algo os afecta directamente.
Se passarmos em revista os principais momentos da História, vemos que os grandes nada fizeram senão manipular aqueles que, na escala social por eles instituída, se encontram abaixo deles. Por outro lado, este poder de controlar encontra-se nos que são controlados, já que são estes que reconhecem e cooperam com os opressores. Até onde teria avançado Alexandre, o Grande se estivesse sozinho? Se o seu exército se tivesse rebelado, Alexandre não teria sido, de todo, Grande! Actualmente existe um novo desporto: as manifestações ao velho estilo «democrático», estilo esse que passou completamente ao lado da influência directa dos tais fracos. A palavra «democrático» está entre aspas porque esta é uma expressão verdadeiramente difícil de explicar: o «demos» (povo) manifesta-se contra o «krátos» (poder), que, teoricamente, controla. É problema meu ou isto encerra uma contradição implícita: o povo manifesta-se contra si próprio? Essas demonstrações são, nos seus moldes actuais, dignas de nota por uma característica predominante: regral geral, são inconsequentes, pelo menos no que realmente interessa (transformações de fundo). Temos, como exemplo, as greves dos estudantes universitários: o que é que eles estão a fazer, a brincar às greves e às manifestações?! Quando se decidem por agir de uma forma que tenha real impacto? E isto é só um exemplo entre muitos outros disponíveis. É porque se acomodam, porque reconhecem um poder falsamente superior, e porque não sabem fazer-se ouvir, que as massas são tão duramente exploradas. Nada conseguirão fazer enquanto não se aperceberem de que o potencial de mudança lhes pertence. Sempre serão rechaçados enquanto se recusarem a enfrentar a simples realidade: que dos fracos não reza a História porque eles não querem que tal aconteça, porque se contentam em olvidarem-se do que é tão claro!
Para além do mais, existe um facto muito interessante: o carácter em espiral da História é quase sempre deixado de lado. É verdade que a História pode apontar, através do passado, caminhos para o futuro, mas também é verdade que a História é completamente menosprezada e esquecida, quando se trata de tomar decisões importantes! Porquê? Porque é que se ignora um elemento tão precioso? Para além do mais, a História que passa (e isto junta-se à ideia que desenvolvi atrás) é escrita pelos vencedores, falta-lhe uma imparcialidade que seria essencial para que se compreenda tudo. As influências de quem ganha sobre quem perde, quando chega a altura de escrever os manuais de História, é visível! Em último lugar, esta própria História dos vencedores é uma História de líderes, de seguidores e de super-homens, que remete para a obediência a alguém superior, capaz de liderar todos os outros. É este o tipo de seguidismo que desejamos? É para isto que tantas lutas foram travadas?
Reconheça-se, porém, crédito aos «fortes»: os meios empregues para que os «fracos» se esquecessem do seu real papel tiveram um grande sucesso! Nada conseguiremos fazer, nada poderemos alcançar, até que os reais detentores desse poder potencial, de que falei, se resolvam a utilizá-lo, para melhorar uma situação que todos sabemos estar mal. As contribuições não podem ser coniventes com o sistema, têm que o abalar, que o alterar de uma forma que seja inusitada. É necessária a reformulação de uma falsa consciência de classe, que está doente e moribunda, devorada por um cancro invisível, por uma doença neuro-degenerativa que poucos diagnosticaram. Para este cancro, a única solução é a remissão espontânea. Não, perdão, não pode ser espontânea, tem de ser planeada, tem de ser uma remissão naturalmente provocada!
Última questão: afinal, qual é o interesse de entrar para a História? No fim de contas, não somos senão sombras e pó.
Assim é. Durante toda a História, os grandes pugnam por não serem esquecidos, tentam de todas as formas libertar-se «da lei da Morte». O que acaba por acarretar o resultado sobejamente conhecido: os reais praticantes de todos esses feitos fantásticos (os «fracos»), caem no mais completo esquecimento. Os grandes têm como tendência inscreverem os seus nomes nos anais da História, olvidando-se os que estiveram por detrás dessas conquistas. Só explorando os mais fracos é que os fortes conseguem sê-lo. Por outro lado, aqueles que têm a seu cargo os ditos anais da História acabam por contribuir para isso, menosprezando o papel dos explorados na criação das grandes obras.
O que depois acontece não é difícil de adivinhar: os mais fracos acabam por se habituar a essa posição de total subserviência, e não mais desejam fazer sentir a sua força por detrás dos números. É pena que os fracos tenham perdido a consciência da dita força; por outro lado, os poderosos nunca puderam esquecer este potencial problema: desde o «pão e circo» dos Romanos até formas mais modernas de controlo (Religião, Comunicação Social, etc...), os poderosos sempre pugnaram pelo apaziguamento das massas para que o seu poder não fosse subitamente abalado.
Então, porque nos queixamos da nossa impotência, quando estamos mergulhados num potencial enorme de poder, seja ele de que tipo for? Muito simplesmente porque «os fracos» preferem esquecer, de forma mais ou menos voluntária, aquilo que possuem. Por comodismo, encostam-se à sombra daquilo que os mandam fazer e demitem-se das suas responsabilidades, a não ser quando algo os afecta directamente.
Se passarmos em revista os principais momentos da História, vemos que os grandes nada fizeram senão manipular aqueles que, na escala social por eles instituída, se encontram abaixo deles. Por outro lado, este poder de controlar encontra-se nos que são controlados, já que são estes que reconhecem e cooperam com os opressores. Até onde teria avançado Alexandre, o Grande se estivesse sozinho? Se o seu exército se tivesse rebelado, Alexandre não teria sido, de todo, Grande! Actualmente existe um novo desporto: as manifestações ao velho estilo «democrático», estilo esse que passou completamente ao lado da influência directa dos tais fracos. A palavra «democrático» está entre aspas porque esta é uma expressão verdadeiramente difícil de explicar: o «demos» (povo) manifesta-se contra o «krátos» (poder), que, teoricamente, controla. É problema meu ou isto encerra uma contradição implícita: o povo manifesta-se contra si próprio? Essas demonstrações são, nos seus moldes actuais, dignas de nota por uma característica predominante: regral geral, são inconsequentes, pelo menos no que realmente interessa (transformações de fundo). Temos, como exemplo, as greves dos estudantes universitários: o que é que eles estão a fazer, a brincar às greves e às manifestações?! Quando se decidem por agir de uma forma que tenha real impacto? E isto é só um exemplo entre muitos outros disponíveis. É porque se acomodam, porque reconhecem um poder falsamente superior, e porque não sabem fazer-se ouvir, que as massas são tão duramente exploradas. Nada conseguirão fazer enquanto não se aperceberem de que o potencial de mudança lhes pertence. Sempre serão rechaçados enquanto se recusarem a enfrentar a simples realidade: que dos fracos não reza a História porque eles não querem que tal aconteça, porque se contentam em olvidarem-se do que é tão claro!
Para além do mais, existe um facto muito interessante: o carácter em espiral da História é quase sempre deixado de lado. É verdade que a História pode apontar, através do passado, caminhos para o futuro, mas também é verdade que a História é completamente menosprezada e esquecida, quando se trata de tomar decisões importantes! Porquê? Porque é que se ignora um elemento tão precioso? Para além do mais, a História que passa (e isto junta-se à ideia que desenvolvi atrás) é escrita pelos vencedores, falta-lhe uma imparcialidade que seria essencial para que se compreenda tudo. As influências de quem ganha sobre quem perde, quando chega a altura de escrever os manuais de História, é visível! Em último lugar, esta própria História dos vencedores é uma História de líderes, de seguidores e de super-homens, que remete para a obediência a alguém superior, capaz de liderar todos os outros. É este o tipo de seguidismo que desejamos? É para isto que tantas lutas foram travadas?
Reconheça-se, porém, crédito aos «fortes»: os meios empregues para que os «fracos» se esquecessem do seu real papel tiveram um grande sucesso! Nada conseguiremos fazer, nada poderemos alcançar, até que os reais detentores desse poder potencial, de que falei, se resolvam a utilizá-lo, para melhorar uma situação que todos sabemos estar mal. As contribuições não podem ser coniventes com o sistema, têm que o abalar, que o alterar de uma forma que seja inusitada. É necessária a reformulação de uma falsa consciência de classe, que está doente e moribunda, devorada por um cancro invisível, por uma doença neuro-degenerativa que poucos diagnosticaram. Para este cancro, a única solução é a remissão espontânea. Não, perdão, não pode ser espontânea, tem de ser planeada, tem de ser uma remissão naturalmente provocada!
Última questão: afinal, qual é o interesse de entrar para a História? No fim de contas, não somos senão sombras e pó.
1 Comments:
Pois é disso mesmo que falamos, Prometeu.
O segredo está em despertar naqueles a quem, por oposição aos poderosos, chamaste fracos, fazer despertar neles a consciência da sua POTÊNCIA...da sua capacidade de ser na acção. Por isso te digo que não devemos ambicionar o poder mas sim a nossa capacidade de agir; a nossa potência.
Esta ambivalência poder/potência, bem como as questões que hoje a filosofia política coloca, foi brilhantemente explorada por Espinoza. Este filósofo com 400 anos, ostracizado em vida, quase assassinado, teve de esperar 4 séculos para ser compreendido. É hoje o fulcro da "nova esquerda" europeia. Filósofos comtemporâneos como John Holloway, Toni Negri, Paulo Virno, Onfray, etc,politicamente engajados à esquerda, tornaram os conceitos de "potência" e de "multidão" no centro da discussão política moderna. Não queremos o poder (recusamos a dialéctica, a tal visão dualista do mundo que o transforma num eterno palco de guerra), queremos a potência (a capacidade de agir, o ser em acção). Somos uma multidão de irredutiveis subjectividades, mas essa diversidade é o que dá expressão ao todo.
Abraço
O uno e o multiplo
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