terça-feira, agosto 17, 2004

"Manifesto contra o Trabalho"

"Manifesto contra o trabalho" foi um livro que, por acaso, comprei (ontem) e li (hoje). Da autoria do Grupo Krisis (alemão), mostra bastante bem a actual condição de escravatura em que os trabalhadores da suposta democracia em que vivemos se encontram. Procede também a uma análise da actual crise capitalista: o sistema está em ruptura e a única forma que tem permitido sustentá-lo é através da especulação bolsista, cujos ganhos se deveriam reflectir num aumento da prosperidade que, na verdade, não acontecerá. Por outro lado, há também a ter em conta a falha do Estado-Providência, com o triunfo do neoliberalismo. O problema encontra-se no endeusamento do Trabalho, que é tido como uma necessidade natural, quando é tudo menos isso. É contra isso que a rebelião se deve dirigir, contra o trabalho e contra a própria política, já que tal movimento se mostra antipolítico, no sentido em que conduz ao derrube do Estado.

Por fim "Já não será a finalidade autotélica do trabalho e do «emprego» a determinar a vida, mas sim a organização judiciosa das possibilidades comuns, as quais deixam de ser dirigidas pelo automatismo de uma «mão invisível», para passarem a sê-lo pela acção social consciente. A riqueza produzida será objecto de apropriação directa segundo as necessidades, e não em função do «poder de compra». Juntamente com o trabalho, desaparecerá a universalidade abstracta do dinheiro, tal como a do Estado. Em substituição das nações separadas surgirá uma sociedade mundial que já não precisa de fronteiras, na qual cada indivíduo poderá deslocar-se livremente e contar com o universal direito de permanência em qualquer lugar."

São 9€ (na FNAC) bem gastos, e quem também já leu o livro por favor comente e acrescente. Quem ainda não leu, é favor ir a correr comprá-lo! Têm também o link para o site em português do Grupo Krisis.

Prometeu

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

O trabalho é uma arma de manipulação, e quanto mais o cidadão comum depender do salário para sobreviver, mais cerceadas estarão as suas liberdades fundamentais, menor será o seu poder reivindicativo, menor a sua autonomia política e social.
Numa época, em que é «normal» cultivar o individualismo exacerbado, torna-se difícil levar as pessoas a acreditar que é necessário unificar esforços, partilhar ideias, encontrar alternativas, e fundamentalmente resistir ao obscurantismo neoliberal.
O problema passa mesmo por sensibilizar as pessoas que cultivar o individualismo é puro suicídio individual, e mais, é negar a possibilidade de descobrir o que realmente importa: a identidade, a essência genuína que nos distingue, mas que, sendo um processo consciente, leva á compreensão do significado intrínseco da própria existência, e contribui para aceder mais facilmente à identidade de outras pessoas; aliás, a vida deixa de fazer sentido, como mera actividade competitiva, quando o que está em causa é a qualidade da nossa existência individual, a qual depende da qualidade da existência colectiva.
Quanto essa percepção é profundamente sentida, sente-se igualmente necessidade de comunicar e estabelecer laços criativos com os outros, até porque quando se compreende o quanto se ganha em qualidade emocional e genuína alegria de viver, tudo quanto somos obrigados a fazer sem sentido, passa a ser um tormento, a liberdade passa pela liberdade de comunicar.
O trabalho, tal como o sinto é uma afronta à descoberta de um sentido para a vida.

Um abraço
Rodrigo Ribeiro

PS: O jantar que o Zecatelhado está a organizar vai proporcionar que conversemos um pouco, se tal aprouver a ambos, claro!

1:14 PM  
Blogger Daniel Cardoso said...

Oh Rodrigo, a mim apraz-me sempre conversar... o problema será calar-me, hehe!
Também espero sinceramente ter oprotunidade de ir, penso que será uma experiência interessante, e pode ser que dali saia um movimento revolucionário... (mas essa parte não era para se dizer...)

Prometeu

1:24 PM  
Blogger anátema said...

Definitivamente, caminhamos pela mesma estrada!
Já li esse livrinho há uns tempos; comprei-o assim que a tradução foi publicada em Portugal. Muitíssimo interessante. Atira-nos para certas conclusões que deveriam estar na ordem do dia.
Acrescento a informação que o grupo KRISIS possui uma página na internet(http://www.krisis.org/)traduzida para diversas línguas, incluindo o português, e onde também se pode ler o referido Manifesto. on-line, em inglês (http://www.giga.or.at/others/krisis/manifesto-against-labour.html).
Abraço,
o uno e o multiplo

1:00 PM  

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