quinta-feira, setembro 02, 2004

Aborto - outra perspectiva

Em primeiro lugar, quero pedir desculpa aos leitores de "O Fogo de Prometeu" pela minha ausência, que se explica, em parte, por uma grande dose de preguiça (também tenho direito!) e por outro lado, pela falta de actualidades realmente controversas, que são as minhas preferidas e as que mais me inspiram. Como esta sobre a qual vou falar agora...
Em segundo lugar, quero expressar o meu desprezo pela subjugação ideológica: por alguém pertencer a esta ou aquela facção política, é suposto que pense desta ou daquela forma, o que acaba por retirar a pessoalidade das opiniões, que é coisa que muito prezo, tal como os meus leitores. Assim sendo, apesar de ser da Assumida Esquerda (que não se revê em nenhuma instituição partidária, note-se), vou agora manifestar-me e justificar-me contra o aborto, e não a favor do mesmo, como é comum que se faça no "meu" quadrante ideológico. Introduções à parte, começarei.
Se há coisa que não percebo é porque é que as mulheres tomaram o aborto como fazendo parte dos direitos da mulher... Não me interpretem mal, por favor, eu sou o mais a favor possível da mais estricta igualdade entre sexos; não obstante, há aqui uma confusão, um erro de perspectiva que leva a que este assunto esteja a ser mal abordado. Na verdade, há vários erros de perspectiva... mas já lá vou! O primeiro é este mesmo: faz-se a confusão entre o embrião, ou o feto, e a mulher. Se temos aqui duas coisas distintas (feto e mulher) não percebo porque é que, quando convém, essas duas coisas se juntam. É verdade que existe uma simbiose biológica, que ambos os corpos estão ligados, mas existe uma diferenciação de identidades que é também biológica: não se pode falar num corpo só quando existem dois códigos genéticos (fora os casos de quimerismo humano, mas deixem isso para outra altura, por favor)! Mas não, quando se fala em aborto, o feto é a mulher, é apenas mais um apêndice seu... de onde saiu esta ideia, desconheço. Como é que se propagou, espanta-me...
O segundo erro de perspectiva, lamento informar, parte deste. Não se reconhece individualidade ética ao feto. É tão simples quanto isso - já que faz parte da mulher, não tem direito a ser reconhecido como um ser separado, diferente da mulher. E, para cúmulo, vêm os médicos (e não só) provar que o feto, apesar de ter sensibilidade a partir de dada altura, não tem consciência, e que portanto se pode fazer o que quiser. Muito honestamente, ouvir isto dá-me a volta ao estômago... O embrião, nem que tenha duas células apenas, é aquilo que todos nós somos: um ser, uma potencialidade. O ser humano nunca termina o seu desenvolvimento interior, e um embrião está apenas muito distante do nosso estádio de desenvolvimento tanto física como intelectualmente, mas nem por isso se lhe deve conferir menos peso ético! Seria o mesmo que dizer que uma criança vale menos do que um adulto, ou do que um idoso. Toda a vida humana deve ter um peso semelhante. Todos nós somos projectos daquilo que podemos ser, e o embrião, a partir do momento em que tenha um código genético (e um útero para se desenvolver) é um humano, é uma pessoa, e deve ser tratado como tal. Temo que a posição normalmente tomada, de nulidade ética do embrião, advém (para grande vergonha minha como ser humano) da máxima "Longe da vista, longe do coração". Aquilo que não vemos directamente não nos afecta tanto ao nível emocional; ora, como a maior parte das pessoas não se dá ao trabalho de usar a massa cinzenta, deixam-se ficar por aí (para provar isto, refiro-me a uma mulher que ia abortar e que dizia que lhe custava mais dar o filho para adopção do que abortá-lo; o que é interessante é que isto leva a pensar que o aborto é um caso de egoísmo puro). Porém, este é um caso em que se deve abordar o assunto de forma intelectual, filosófica mesmo, considerando como pessoa aquele ser, ao invés de o desprezar e de o considerar uma nulidade. Seja isto com mais ou menos de X semanas...
Daqui se depreende que, tratando o feto como ele merece, o aborto não passa de assassinato premeditado. Mas há quem queira deixar nas mãos da mãe e só da mãe a decisão de vida e de morte de uma pessoa! Até mesmo nos países mais bárbaros em que a pena de morte é rainha (como em alguns estados dos E.U.A.) existe um painel de jurados, existe um julgamento e provas a serem apresentadas antes de se executar alguém (e não vou falar dos países ainda mais bárbaros, estou só a aproveitar para dar "descasca" nos E.U.A.). Não é feita execução sumária! Ser contra a pena de morte e a favor do aborto (ou da sua legalização, já agora) é absolutamente insustentável do ponto de vista argumentativo!
Em relação aos que são contra o aborto, mas a favor da sua legalização eu digo apenas - queremos ser realmente coniventes com tal acto, queremos ser assim tão hipócritas? Respondem-me que mais vale isso do que mulheres e crianças morrerem por causa de abortos ilegais... e eu posso contra-argumentar dizendo que há solução melhor. Se o Estado se resolvesse a melhorar substancialmente o serviço de adopções e a conceder mais subsídios para esse mesmo fim, o problema diminuiria. Sim, porque por muito ridículo que seja, a principal preocupação das mães que não o querem ser é como vão cuidar da criança, e não simplesmente o ter a criança. Respondem-me que mais vale o aborto que a vida com falta de condições... E eu, horrorizado, respondo: "mas quem somos nós para dizer isso, acaso temos o poder moral de decidir por outrém se a sua morte é melhor que qualquer tipo de vida que seja?" Afinal de contas, vemos tantos desalojados, drogados, famintos e outros que tais... se realmente fosse verdade que toda a gente considera que mais vale morrer do que viver mal, todas essas pessoas se teriam suicidado! Temos que deixar ao próprio o direito de viver e depois decidir por si próprio se prefere viver ou morrer! Não somos deuses para tomar tais decisões!! A vida tem o valor que tem, e a nível subjectivo tem o valor que lhe atribuímos pessoalmente. Se o feto não o pode fazer, esperemos até que possa realmente decidir por si mesmo.
Acusam-me de ser simplista na forma como abordo a questão, mas ainda ontem vi uma activista pró-aborto a dizer à televisão que o aborto era como cortar as unhas... Isto repugna-me! Matar alguém é igual a cortar as unhas?! Em que planeta? Só se for na cabeça do Bush - esse deve concordar...
Deixem estar a lei como está, e mesmo assim deveria talvez ser modificada para obrigar à consulta de psicólogo para discutir a questão... É o Estado que tem a culpa de não fornecer os meios para o apoio aos desfavorecidos. Se isso for reconhecido, escusamos de andar a matar desnecessariamente.

Prometeu

7 Comments:

Blogger Gatinha said...

Concordo contigo que o aborto não é uma questão simplista.
Deixo apenas uma questão: achas que as crianças que nascem sem serem desejadas, apenas porque o aborto não era uma opção disponível, serão algum dia tratadas como seres humanos? Os índices de violência doméstica mostram q não.
Não concordo que o aborto seja usado como método contraceptivo, a vida humana n deve ser encarada com essa ligeireza, mas todos sabemos que os acidentes acontecem, e o aborto deve ser uma opção da consciência de cada um, não do "Big Brother" governamental.
*

4:29 PM  
Blogger anátema said...

Lamento informar-te, Prometeu, que esta NÃO É uma OUTRA PERSPECTIVA. É a mesma, a mesmíssima perspectiva dos arautos da fé cristão e dos homens e mulheres de direita, como o nosso Paulinho das Portas ou o nosso macaquinho de estimação G.W. Bush. A mesmíssima....a de quem nega ao ser humano a liberdade de em consciência optar....a de quem lhe nega, em última instância, a liberdade de ser.
O teu discurso que, sobre este assunto, absolutamente repudio nega-me esta liberdade de ser; todo ele aponta para o autoritarismo do poder iluminado, que claro, seria o teu se acaso governasses. Tu decides e impões (ou pretendes impor) aos outros o que consideras ético, moral, etc.

A baralhação que aqui estabeleces, nomeadamente confundido as diversas etapas de desenvolvimento de um feto só pode ser intencional; já mostraste possuir lucidez suficiente, noutras ocasiões, para que eu possa acreditar que desconheces o que é, efectivamente, um embrião com 2, 4 ou 6 semanas...a confusão estabelecida só pode ser propositada e manipuladora.
Dizer que um feto com 2 ou 4 semanas é um ser humano é simplesmente ridículo; nem merece discussão. Dizer que ele é potencialmente um ser humano é não dizer nada! Em potência tudo é tudo e tudo é nada. As potencialidades encerram em si a possibilidade do não ser, isto é, a sua própria negação; lá se vai o fundamento da tua opinião.

E só para terminar, obrigadinha, mas eu, por mim, dispenso o paternalismo do Estado para uma esmolinha à família; prefiro a liberdade de poder decidir para onde vou e para onde quero ir.

O aborto faz parte dos direitos da mulher porque é nela que o feto se desenvolve, é ela que o alimenta, é ela que corre risco de vida, muitas vezes, para dar à luz, é ela que o amamenta quando nasce, é ela que lhe estrutura a personalidade nos dois primeiros anos de vida....queres mais?
É a mulher que engravida, caramba....é ela que sofre....porque também há sofrimento e privação para muitas mulheres, é ela que sofre na gravidez....e por fim é ela que se sente estigmatizada, profissionalmente afectada, frequentemente ostracizada quando tem a seu cargo filhos. Não compreender isto é não compreender o que é ser mulher e isso, desculpa, em nome de tudo o que já conversamos, não te admito.

A tua percepção sobre este assunto é extremamente reaccionária, autoritária, despótica e fascista.

As leis são boas quando regulam - e não impõem - o comportamento das sociedades, quando são aceites e compreendidas como fundamentais para o grupo e não quando meia dúzia de almas superiores iluminadas, supostamente detentoras da absoluta verdade, as impõem contra a vontade da comunidade. Por muito que isso te choque a interrupção voluntária da gravidez é uma prática antiga e levada a cabo por milhões de mulheres no mundo....é necessária muita pretensão para pretender contrariar tal facto atravéz da imposição de uma lei.

Impor uma lei contra a legalização do aborto é institucionalizar a repressão das mulheres. Porque só pela repressão poderás evitar que tal prática não se repita.

Se é essa repressão que defendes então não há qualquer diferença entre ti e um Bush qualquer.

Por mim, viva a liberdade, viva o direito ao corpo e abaixo a repressão. Sempre.

um abraço
o uno e o multiplo

7:38 PM  
Blogger Daniel Cardoso said...

Bom, já esperava algo do género... mas tem calma com tanta brusqidão, olha que comparares-me ao Bush quase se torna ofensivo...

Entretanto aproveito para clarificações de primeira importância.
Em primeiro lugar, tanto a fé cristã (arrepios...) como a moral são por imposição de uma supra-entidade sobre os sujeitos e têm como base o medo da punição. A opinião aqui defendida é uma opinião ética, feita por reflexão pessoal e permitida apenas pelo uso da minha liberdade pessoal. Acresce que esses insanos opositores do aborto concordam comigo por razões diferentes das minhas, e as razões são tudo... Não me verias a manifestar-me ao lado deles, da mesma forma como não me verias num comício político de seja que ala for.
Apesar de ser um grande defensor da liberdade, penso que dar a uma pessoa singular poder de vida e de morte de forma aritrária sobre outra pessoa é um exagero, pois o precedente que daí se poria extrapolar levaria à maior anarquia deste planeta. A nossa liberdade vê-se cerceada no respeito pela liberdade/pelos direitos dos outros, e não existe liberdade/direito maior que a de existir!
A mistura entre feto e embrião é prorpositada, claro, com vista a demonstrar claramente que não existe uma diferença valorativa entre ambos os estádios de desenvolvimento, tal como não existe entre uma pessoa de 30 e outra de 60 anos.
Dizes que a potencialidade se pode manifestar pelo não-ser. Porém, discordo. A ÚNICA forma de o humano não-ser é pela morte, e ainda assim o humano só não-é depois de morto, até mesmo se se suicidar está a ser; para além do mais, os organismos lutam sempre em via do ser, e não do não-ser. Fazendo uma analogia, como disse J.-P. Sartre "O Homem está condenado a ser livre". Da mesma forma, o Homem está condenado a ser, desde que viva. No embrião, ou no feto, a potencialidade de não-ser é nula, porque, não sendo auto-consciente, não se pode suicidar e qualquer morte por outras razões não advém da potencialidade instrínseca. Sinceramente, não sei onde foste busca essa...
Entretanto, a solução apresentada era um "remendo" plausível para a configuração política actual ("democracia" representativa) - o Estado podia muito bem financiar as instituições que albergam as crianças! Não será ninguém em concreto a receber esmola...

Depois dizes, como ouvi ad nauseum, que, por todos os tormentos pelos quais a mulher passa, e pelo facto de o embrião/feto fazer parte do seu corpo (situação discutível, em especial por causa daquela conversazinha do ADN: o código genético, que pode ser comparado à escritura de uma propriedade para este fim, difere entre a mãe e o bebé, pelo que o bebé está no corpo da mãe mas não considero que faça parte do corpo da mãe tal como os pulmões, ou coração, ou as unhas) a mulher tem poder de decisão. Mas então estás a pôr esses sofrimentos acima do valor da vida humana de mais um ser?!
Prossegues com argumentos históricos, mas devo lembrar-te que a maior parte das coisas repugnantes que acontecem neste planeta, desde a violação até ao assassinato, têm o maior background histórico possível... nem por isso são muito defensáveis.

Eu não quereria resolver isto pela repressão, mas sim pela informação e prevenção! Era muito melhor se não existisse necessidade de recorrer a um aborto! Mas, repito, ser conivente com este tipo de actos é fazer jurisprudência de forma um tanto ou quanto desastrada no meu ponto de vista. Baixa enormemente o valor da vida humana. E volto a repetir, este não é nem devia ser um cavalo de batalha das feministas; no máximo, seria dos defensores dos direitos das crianças!

Deixa-me modificar a tua última frase: "Viva a liberdade de viver, viva o direito ao reconhecimento dos embriões/fetos como entidades separadas e abaixo as falácias"

Abraço,
Prometeu

4:15 AM  
Blogger anátema said...

Colocar a discussão do ponto de vista moral, que é o teu apesar de eufemisticamente o intitulares de ético, não conduz a lado nenhum... da discussão não nasce a luz. Gostaría apenas, como defensores que somos da plena democracia, que nem tu, nem ninguém me impusessem as vossas considerações particulares, revestidas de ideologia e moral (por muito que o negues)...a ética (e eu não sei onde foste buscar essa ideia) não é, de modo algum, destituida de ideologia...parece-me que também aí te encontras sobejamente confundido. Afirmares que as tuas considerações resultam de uma reflexão alheia a qualquer moral ou ideologia é tão palerma que nem merece discussão.

Do ponto de vista juridico, qualquer legislador te confirmará o que anteriormente te afirmei...as leis (à excepção dos comportamentos que poderão colocar a própria comunidade em perigo, ou a sua própria organização social) não devem impor pontos de vista particulares que atentem contra as convicções da comunidade em geral. Do ponto de vista filosófico, poderia responder-te com Espinoza (e não com exixtencialistas - francamente! - como o Sartre): se a lei compõe com a comunidade é boa, se não compõe, se não defende o interesse do grupo é má e deve ser rejeitada. Esta lei, que leva à barra do tribunal e à detenção de mulheres que interrompem a gravidez não é boa...e prova-o o facto de MILHARES de mulheres , como eu, já o terem feito....e milhares delas o continuarem a fazer, por muitos moralismo que se invoquem.

Em ultima instância, quando dizes que esta lei é boa estás a afirmar que estas mulheres, mulheres como eu, deveriam ser presas. Pelo que me toca, obrigadinho...deverás é ter cuidado porque talvez muitas das mulheres da tua família se encontrem na mesma situação e talvez não gostasses de as ver detidas.

Não sei onde vais buscar a ideia de que as tuas considerações "éticas" (como as do portas ou as das igreja, é igual)são mais valiosas que as minhas dando-te o direito de me impores o teu ponto de vista...é muita presunção, não achas?

11:16 PM  
Blogger Daniel Cardoso said...

Eu não disse que a minha reflexão era totalmente desprovida de contexto ideológico, mas referi que eu estava a usar da minha liberdade pessoal ao dissertar sobre um assunto, mostrando assim o máximo de respeito pelo conceito de liberdade. Aliás, se eu dissesse tal coisa, era porque tinha perdido uma parte do meu neo-cortex: o Homem é um ser social, e todas as suas formas de pensamento se encontram, de uma forma ou de outra, condicionadas pela sociedade em que habita. Porém, deixa-me elucidar-te sobre a diferença de definção entre moral e ética: ambas têm como fim uma coexistência saudável entre os humanos, com a diferença de que a moral é um código mais ou menos rígido que o sujeito tem de adquirir ao longo do seu processo de socialização e ao qual tem de obedecer (atenção a esta parte) por medo das represálias; a ética é construída individualmente, através da reorganização da tábua valorativa vigente e leva à obediência de regras auto-impostas por respeito do outro como um ser com direitos e deveres iguais, independentemente das represálias, apoiando-se no valor intrínseco de Bem das acções praticadas. Em relação ao facto de supostamente eu estar a tentar impôr o meu ponto de vista, deixa-me responder-te que não forço seja quem for a aceitar as minhas ideias, mas lembro-te também da máxima kantiana que nos leva a desejar que as nossas reflexões se apliquem a todos. Afinal de contas, não conheço ninguém que num debate não tente fazer valer o seu ponto de vista, porque debater para gastar neurónios sem outro fim é ridículo. O debate tem três fins possíveis: a recusa de parte a parte de aceitar seja o que for no ponto de vista alheio, uma solução de compromisso/síntese em que se misturam visões dos vários pontos de vista, ou a desconstrução de um ou vários pontos de vista pelo que terá de ser "aceite" por aqueles que não possuíram capacidade de contra-argumentação. Para além do mais, se desesperas pelo facto de eu ir buscar um existencialista, eu digo-te mais: esta questão é eminentemente existencialista, já que se trata aqui da existência de alguém!
Deixa-me também referir que a Lei não se compadece com o "gostavas ou não" - é desse tipo de pensamento que advêm os favoritismos, como as filhas de ministros que entram ilegalmente na universidade: afinal de contas, o paizinho também não deveria gostar de ver a filha ficar de fora. É claro que não gostaria de te ver, ou a mais pessoas que conheço, presas, o que não quer dizer que me opusesse à prisão. A nossa racionalidade premite-nos estabelecer uma diferença entre sentimentos e intelecto.

Aquilo que me separa do Portas e afins é o facto de eu não partilhar as ideias deles como um todo, apesar de chegarmos às mesmas conclusões. Quando o Portas diz que matar é um pecado perante Deus, eu digo que matar é um atentado contra um ser que deve ser respeitado como um nosso igual.

Agora lanço-te a ti o repto: distingue a morte de um embrião/feto da de um qualquer outro humano. É que eu ainda não ouvi ninguém explicar a diferença, e penso que aí está o ponto fulcral. Se existe uma diferença de estatuto, então o aborto pode ser pensado de outra forma, o que invalidaria o que tenho dito até aqui. Se não existe, então o aborto é assassinato e aquilo que eu digo é, no mínimo, plausível e racional.

Prometeu

11:43 PM  
Blogger anátema said...

Terminei, por agora, esta discussão nos comentários ao post que contém a citação de Onfray, n' "o uno e o multiplo".

Não quiseste - ou não estiveste em condições de compreender algumas das minhas afirmações mas isso pouco importa. Talvez não eu não tenha sido suficientemente clara. No teu discurso estabeleces muitas e profundas confusões, acabando por cair em irresoluveis paradoxos e contradições.

Contudo,não resisto à pergunta: se não pretendes impôr o teu ponto de vista porque o pretendes ver representado e expresso através de uma lei que, ao contrário do que ingenuamente pareces acreditar, conduz o indivíduo à aceitação do pecado(=crime) e consequente expiação (=castigo)?

Quem anda aqui a brincar a Deus, afinal?

Um abraço

o uno e o multiplo

7:31 PM  
Blogger Daniel Cardoso said...

Bem, se analisas as coisas dessa perspectiva, então realmente podes acusar-me de tentar impôr as minhas ideias. Porém, a Lei obriga ao cumprimento mas não obriga à aceitação (pessoal) da mesma, se é isso que tanto te perturba. Afinal de contas, ambos somos contra a propriedade privada e nem por isso começámos numa onda de roubos, pois não?

Deixa-me também deixar uma última observação: penso poder deduzir que tu consideras que, independentemente do raciocínio, a conclusão a que se chega é que importa. Daí a analogia entre crime e pecado, punição e expiação. Eu penso de forma diferente. Mesmo quando as conclusões são semelhantes, o que interessa é o processo que levou a elas, porque é isso que diz da índole da pessoa. Dou-te um exemplo pessoal: sendo a favor da poligamia, não sou a favor de comportamentos sexuais irresponsáveis e instáveis. Muito embora possa parecer uma contradição, não o é: é preciso pensar de certa forma para que certa acção tenha este ou aquele valor. Tem que existir uma intenção, ou uma forma de pensamento consciente, que leve a dado resultado.
Daí eu não me juntar ao Portas e amigos. As conclusões podem ser as mesmas, mas a forma de lá chegar é diferente. E isso conta. Além do mais, a tua citação no teu blog fala do corpo... e eu pergunto mais uma vez: quem fica então para defender os direitos do ser que se está a desenvolver? Tens que ver que considerar esse ser nulo em direitos tem outras consequências: se assim é, ninguém pode achar mal que uma grávida se intoxique (e ao mesmo tempo, ao filho), porque, afinal de contas, é parte do corpo dela. Como mulher, consideras correcto que uma mãe se alcoolize grave e constantemente durante uma gravidez, prejudicando assim o feto? Pensas que ela tem realmente o direito de o fazer? E repara - esta é uma questão que não é proibida por Lei! Onde é que deve terminar a nossa liberdade, então?!

Prometeu

7:46 PM  

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