sábado, janeiro 15, 2005

De olhos postos em nenhures - parte 2

Eu tinha toda a intenção de ter continuado o post sobre o Harry e a suástica, mas entretanto meteu-se a questão do voto... Agradeço ao Vítor Alvito por ter comentado o post.

Em verdade vos digo que o que me interessava naquele caso não era, de todo, a suástica ou o Harry, ou as duas coisas juntas. Queria eu que se reparasse em dois ou três factos muito interessantes. Primeiro, o facto de as acções dos papparazzi ser aceite socialmente, muito embora toda a gente esteja muitíssimo preocupada em conservar a (sua) vida privada intacta e sem mexericos; segundo, o facto de ele andar com um disfarce de nazi ter que significar que estava a apoiar o nazismo; terceiro: que a grande sociedade inglesa, defensora dos pobres e oprimidos (*mais um ataque compulsivo de tosse*) tenha ainda a necessidade (bem demonstrativa do espírito ocidental) de ter acima de si alguém superior, alguém impecável no sentido etimológico da palavra, que se apresente como modelo perfeito e acabado, alguém para além da simples humanidade.

O problema é que este terceiro ponto vem chocar de frente com o primeiro. Os papparazzi vêm apenas mostrar aquilo que qualquer pessoa razoável já sabe: que qualquer líder, seja ele quem for, é irremediavelmente humano. Assim, a sociedade fica num paroxismo terrível ao nível moral e de poder: tem que criticar o seu modelo inquestionável para que ele esteja acima de qualquer crítica. A confusão é tanta que as reacções são multiplicadas por mil quatrocentos e setenta e nove vezes e meia aquilo que poderia ser considerada uma reacção proporcional, resultando nisto: rios de tinta e horas de emissão televisiva gastas por causa de um... disfarce numa festa privada!

Aplaudam, senhores, que isto é que é jornalismo internacional...

Prometeu

1 Comments:

Blogger Daniel Cardoso said...

Ou isso, ou o ponto de ligação/absorção entre as camadas superiores do sistema e as inferiores. Uma espécie de tubo digestivo, talvez...

Prometeu

7:25 PM  

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