sexta-feira, janeiro 14, 2005

Ene coisas: A minha declaração de não-voto

Ene coisas: A minha declaração de não voto

Tendo em conta o acima mencionado post, que faz ligação com estoutro, estou tentado a dizer que a situação tem que ser mais demoradamente debatida. A vista exposta no "Ideias Soltas" tem a sua razão de ser, sem dúvida: a recusa de participação no acto eleitoral acaba por ter mais força do que o voto em branco, ou plo menos é uma participação de um outro nível, mas isso seria conquanto a abstenção fosse, tal como o voto em branco de Saramago, "iluminado".
A verdade é que os altos níveis de abstenção não são deste tipo, mas sim por culpa da inacção e do laxismo dos portugueses (e não só). E muito embora o "Ideias soltas" fale na quantidade de informação ao nosso dispôr, esquece que essa informação carece muitas vezes de "instruções" ou de background que a torne inteligível.
Por fim, esse mesmo facto resulta nisto: o poder político pode muito bem amalgamar o não-voto de preguiça com o não-voto de protesto e tratar ambos como se existisse apenas o primeiro, diminuindo a eficácia da dita acção. Nao nos podemos esquecer que a abstenção em massa é considerado como um sintoma de uma democracia mais amadurecida. (*Ataque compulsivo de tosse.*)

Por seu lado, o voto em branco não tem uma possível segunda leitura, nem uma explicação de ignorância o pode realisticamente justificar - afinal de contas, os votos por ignorância são muitas vezes resultado do caciquismo, e este é sempre partidário. O voto em branco envolve a participação no sistema mas de uma maneira que se pode considerar lesiva ao sistema.
Não obstante, não quero que me interpretem mal: o não-voto seria de facto muitíssimo mais eficaz, e mesmo mais em consonância com aquilo que eu considero que deveria ser feito em termos de política, mas seria num enquadramento diferente, ou então acompanhado de uma declaração de voto geral (caso todos esses votos fossem de facto iluminados, coisa que não são nem de perto nem de longe). Não se dando o caso, o não-voto perde a eficácia.

(Tudo isto a partir de um post do Tadechuva, este.)

Prometeu

1 Comments:

Blogger Daniel Cardoso said...

Nem me passa pela cabeça dizer que não tens razão, mas o problema é de ordem pragmática: os doutorzinhos iriam culpar as pessoas de ficarem sentadas no sofá e haveria uma grande campanha para que as pessoas fossem votar. O que aconteceria é que se todos os que não votaram porque eram preguiçosos demais para o fazer (o que, claro, é apenas hipotético e serve para demonstrar o meu raciocínio) fossem votar, a abstenção cairia drasticamente - apenas não iria votar quem de facto de opunha à globalidade do regime.
Não conta apenas o resultado, conta também o que leva a esse resultado. É por isso que o não-voto só resultava se 60 desses 70% fizessem uma declaração de voto unânime na linha de pensamento do protesto - aí terias os doutorzinhos a atirarem-se da ponte! Fora isso, os que não estão para sair de casa são os bodes expiatórios e anulam o movimento de protesto, porque são a maioria, percebes?

Prometeu

5:42 PM  

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