quarta-feira, abril 20, 2005

O Papa, ou como as notícias já não o são

Decorre da leitura de blogs como o Diário Ateísta ou como o uno e o múltiplo o facto de as notícias de última hora terem mais de uma semana ou duas de idade quando saem nos meios de comunicação de massas. Mais um ponto forte dos blogs, parece-me. Mas neste pequeno comentário, não venho falar disso. Venho apenas dizer que, pouquíssimos dias depois de nos termos livrado de um Papa, já estamos a papar com outro. E este ainda é pior do que o que o antecedeu, como se já não bastasse.

Deixo convosco, para pensarem sobre os difíceis tempos que temos pela frente, em que para além da repressão política teremos também repressão religiosa daquela bem forte, alguns excertos retirados precisamente do Diário Ateísta. Aliás, convido-vos a lerem os artigos na íntegra.

Um dos efeitos indirectos deste papado será, provavelmente, o recrudescimento das igrejas pentecostais na América Latina e dificuldades acrescidas para um catolicismo popular em África ou na Ásia. No entanto, algumas democracias em países do Sul do planeta poderão ser presas fáceis de um clericalismo que, através do Opus Dei, terá pontos de apoio tecnocráticos e financeiros que não se devem subestimar. O catolicismo do terceiro mundo será cada vez menos a fé das massas e cada vez mais o elitismo da massa.
Porém, a batalha decisiva será na Europa, que Ratzinger encara, com um esgar de horror, como «descristianizada». Os católicos que não querem ou não podem sujeitar-se ao integrismo mais estrito da doutrina católica têm pela frente anos de chumbo. Se querem liberdade ou autonomia ética, terão que se afastar da ortodoxia. Recordo a estes católicos que a liberdade de consciência inclui a liberdade de mudar de crença, e que existe liberdade de associação, ou seja, podem perfeitamente fazer uma ICAR-Reformada, com o apoio de teólogos «progressistas» como Hans Küng e Leonardo Boff, os mesmos que Ratzinger anda a perseguir há décadas. Pensem nisso.
A polarização será agora mais clara do que nunca: ou a obediência à maior multinacional da fé, ou a liberdade individual.
[AQUI]

Não é um bom augúrio um Papa que considera que «Se os divorciados se casam civilmente, ficam numa situação objectivamente contrária à lei de Deus. Por isso, não podem aproximar-se da comunhão eucarística» assim como «O fiel que convive habitualmente more uxorio com uma pessoa que não é a legítima esposa ou o legítimo marido, não pode receber a comunhão eucarística».

Mesmo em termos estéticos e musicais este Papa tem uma palavra a dizer condenando a música rock como um «contra-culto que se opõe ao culto cristão», acusando ainda a música de ópera de ter «corroído o sagrado».

Claro que algumas das conquistas do século passado vão estar sob ataque cerrado, nomeadamente o fim da discriminação de sexos, opção sexual ou de religião. De facto este Papa considera as mulheres como divinamente predestinadas à dominação do homem, condenando, entre inúmeras outras coisas, a emancipação da mulher, recuperando toda a letra da encíclica Casti Connubii do pio Pio XI.

De igual forma deixou claro e de forma «incisiva» a sua rejeição às uniões homossexuais. Segundo Joseph Ratzinger e, podemos pressupor, Bento XVI: «diante do reconhecimento legal das uniões homossexuais (...) é necessário opôr-se de forma clara e incisiva. Há que se abster de qualquer tipo de cooperação formal à promulgação ou aplicação de leis tão gravemente injustas». Esta posição anacrónica e tão vigorosa de apelo à desobediência civil , expressa nas santas «Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais», mereceu de Mario Vargas Llosa um artigo que recomendo.
[AQUI]

Usando uma expressão conhecida: BE AFRAID, BE VERY AFRAID... Ou então lutem, que é o meu conselho pessoal. Talvez agora tenhamos alguns católicos a finalmente abandonar as suas posições anacrónicas de direita, desrespeitadoras de todos os princípios que supostamente defendem com tanto afinco... Pelo menos ainda há esperança.

Prometeu

2 Comments:

Blogger Domë Earendil said...

Pois é, assim que soube da notícia fiquei chocado por saber que um alemão mais conservador que o J.P. vai ficar com o lugar dele..Resultado: Vamos regredir a certos aspectos da Era Negra, como por exemplo a Inquisição..tenho quase absoluta certeza..Significando assim que daki por uns 2, 3anos, vou ser feito em churrasco em praça pública..O que é sempre bom..=P (Por mim, td bem, desde que seja no Inverno..n quero morrer de calor..=P)
Quanto ao campo da música...OK!AGR O ALEMÃOZECO MEXEU NA MINHA COLMEIA!! Sr. D. papa..devo dizer-lhe que com todo o meu gosto assassinaria uma guitarra por si...AO SODOMIZÁ-LO COM ELA!!! Ok..gosto de cantos gregorianos..mas não posso viver sem uma boa rockalhada, ou uma boa tarde de Manowar, ou Kiss, ou Maiden..
Ora, senhor papa..Meta-se nakele sítio mais longe (ou mais perto, dependendo do ponto de vista) antes que ele se meta em si!

HEAVY METAL WILL NEVER DIE!

Bem..obrigado por cederes o espaço de um comment aki ao je para poder desanuviar, mano..Ultimamente tenho andado muuuito inspirado para comentar os teus posts..

Thou art God!

Halgalad

9:40 AM  
Blogger Daniel Cardoso said...

Pois, concordo plenamente contigo. Felizmente de certeza que se ele começa a tentar alguma campanha mesmo séria de repressão musical, pelo menos meia dúzia de bandas caem-lhe em cima. Não estou a ver os System of a Down a terem grandes problemas para gozarem com o homem... hehe.

Prometeu


Thou art God.

10:26 AM  

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