domingo, outubro 31, 2004

Feliz Ano Novo

Para que nos lembremos que nem tudo gira à volta do umbigo da nossa cultura, lembro que hoje é o dia de Ano Novo para os Wiccanianos... (não, não faço parte, mas conheço quem faça, e se desejamos um feliz ano novo no fim do nosso ano, porque não fazê-lo noutras alturas, segundo outros calendários?)

Feliz Samhain... (para mais informações, clicar naquele link ou aqui, para algo mais Wiccaniano.)

Abraço,
Prometeu

Afirmações de Sampaio fazem chorar as pedras

PUBLICO.PT - Última Hora: "'Não posso descansar um dia, enquanto as pessoas do litoral ou do interior do país estejam tão longe de poderem sentir esperança e o destino à sua frente'."

Vá lá!! Quer dizer, os portugueses merecem ser insultados por muitas coisas que deixam fazer... mas QUEM é que aquele tipo quer enganar?! O que raio é que um Presidente da República pode fazer em relação às "pessoas do litoral ou do interior do país"? Por acaso é ele que controla o Orçamento? É ele que gere alguma super-instituição de caridade??

Não pode descansar?! Mas o que raio é que ele faz, em primeiro lugar?! Deve estar cansado de tirar férias! Ou então a consciência voltou das Bahamas e agora ele está com remorsos... Nah... não me parece!

Falando a sério... Isto é um insulto para qualquer pessoa! E ainda se diz de "esquerda". Felizmente eu me assumo da Assumida Esquerda e não desta Suposta Esquerda ridícula e mesquinha, ignorante e... Vocês sabem qual é a ideia de unidade deste gajo? É virarmos todos à direita e pronto! Estamos todos unidos no belo princípio da exploração capitalista do nosso amigo!

Eu sei que me estou a repetir, mas ASSIM NÃO DÁ!

Prometeu

sábado, outubro 30, 2004

Carta aberta de Daniel Sampaio

Tendo visto esta transcrição no "uno e o múltiplo", não pude deixar de ser solidário com o esforço de a fazer passar ao maior número de pessoas possível... Com os devidos tributos...

Carta aberta à geração dos meus filhos

Meus Amigos:
Confio em vocês. Sou a favor do fosso intergeracional e adoro que os mais novos não concordem com os mais velhos. As sociedades avançam por rupturas, as famílias crescem emocionalmente quando se confrontam sem se afrontarem.Cresci numa família democrática. Os meus pais estimulavam a discussão com os dois filhos e não se importavam de gastar horas a defender os seus pontos de vista. Foi assim que aos doze anos comecei a entender a democracia, quando o meu irmão, sete anos mais velho, me explicou Humberto Delgado.

Não quero recordar-vos Salazar e Caetano. Sei que isso está fora do nosso (meu e vosso) tempo. Apenas quero reivindicar uma coisa: os corajosos da minha geração fizeram o 25 de Abril de 1974 para que vocês, geração dos meus filhos, crescessem em liberdade. Quando digo a alguém da vossa idade que, há trinta anos, não se podia dizer tudo o que apetecia, quase não acreditam. Compreendo: viveram a poder exclamar o amor e a saudade, a ternura e a raiva. Quando queriam, puderam romper, sem medo, com tudo com que não concordavam.

É por isso que peço para estarem muito atentos. Não uso frases do passado, género «fascismo nunca mais» ou «a democracia está em perigo». Não é verdade, e são expressões que vos causam tédio. Quero apenas dizer-vos que, se não ousarem, falharão no essencial: deixarão de construir uma sociedade melhor para os vossos filhos (nesse aspecto, os «velhos» não falharam, vive-se hoje bem melhor do que na juventude dos meus pais).

Pois bem: vejam o «governo» da República. Portugal transformou-se no paraíso dos humoristas. Existem tantas graças sobre os nossos «governantes», que se atropelam nas cabeças dos criativos de humor. E se tantas vezes não sabemos se a «Sit Down Comedy» de Luís Filipe Borges, neste jornal, ou as páginas do Inimigo Público são notícias a brincar ou descrições realistas, a verdade é que nos assalta a certeza de que Portugal vai mal.

Nesta semana vi estudantes espancados e a levarem com gás, como era habitual no meu tempo, mas julgava impossível no vosso tempo; ouvi o director-geral das Prisões a propor a redução das visitas aos presos, para melhorar o problema da droga no sistema prisional; e indignei-me com o ministro da Presidência a falar dos limites à independência, a propósito da televisão pública.
Se deixarmos estes factos sem protesto, o risível «governo» que temos proporá mais: voltarão os jactos de tinta e mais prisões sobre estudantes; serão definitivamente proibidas as visitas aos presos, e o problema da droga no sistema será resolvido; os directores de programação das televisões e os directores de alguns jornais reportarão directamente ao ministro da tutela; o insucesso escolar acabará, graças a um despacho da prof. Maria do Carmo Seabra: todos os alunos com duas negativas no Natal serão automaticamente expulsos da escola. E o «governo» continuará a sorrir, centenas de conselheiros de imagem ajeitarão as gravatas dos ministros e o cabelo das ministras, todos dirão que tudo vai bem.Sei que vocês não aguentarão mais. Ouço-vos em toda a parte, por enquanto em surdina, em breve até que a voz vos doa. E por isso vos peço: ajudem a derrubar este governo. Pela verdade e dignidade da vossa geração. Para que, tal como os vossos pais quando contaram 1974, possam dizer aos vossos filhos: sabes, fizemos um segundo 25 de Abril, só com arte e coragem, e o governo foi-se embora.

Com toda a v(n)ossa forçaDaniel Sampaio

In, A Capital

Mais registo que a estas horas já consta a resposta do irmão de Daniel Sampaio:"a riqueza do país faz-se com a diversidade de opiniões"...

Tudo isto in "o uno e o múltiplo".

Prometeu

segunda-feira, outubro 25, 2004

Neo-Illuminati

Finalmente, um projecto com o qual estava a sonhar há eras imemoriais está agora a arrancar. Ao invés de erguer a minha solitária voz, existe agora um grupo que deseja ardentemente a mudança, que deseja espalhar cultura e que deseja a emancipação de quem somos para sermos algo de diferente, de mais semelhante às nossas capacidades. Que este passe a ser uma das vossas paragens neste mundo blogger!

Neo-Illuminati - Libertas in Veritas

Fraternalmente,
Prometeu

domingo, outubro 24, 2004

Contagem decrescente

É verdade, estamos chegados aos últimos dias. Não vem aí o Apocalispe (tanto quanto sei, pelo menos) mas vêm aí as eleições para Presidente dos E.U.A., que é como quem diz para Presidente do Mundo Ocidental e arredores (em expansão). E a outra verdade é que tudo se decidirá em três estados, porque há uma espécie de empate entre Bush e Kerry.

Vergonhoso que nos pareça isto, é uma verdade incontornável que, depois de tantas atrocidades, cerca de metade da população esteja disposta a acreditar e a seguir Bush. A nós, ocidentais de esquerda convictos, pode-nos parecer difícil conceber semelhante ideia, mas a verdade é que os americanos pensam em (muitas) menos coisas que nós. Na minha opinião, está a renascer um sentimento colonialista que não é pertença apenas dos estratos superiores da sociedade, mas também do "John Doe" (que é como quem diz Zé Povinho). Além disto, há a questão da segurança. Vendo em G. Bush um pai protector do Estado e da Família, e temente a Deus, os americanos dormem melhor. Que por causa disso se tenham cometido inconstitucionalidades, ou que por causa disso muitas pessoas estejam agora a sofrer, pouco importa. O que interessa realmente é que foi feita justiça... na lógica deles, claro!

Ora, para isto basta ignorar que o perigo não passou, e que nem Bush nem Kerry podem realmente fazer alguma coisa que faça passar o perigo. Muitos dos terroristas continuam a monte [nota pessoal: e que assim continuem muito tempo; ver os E.U.A. a suarem de medo diverte-me sobremaneira] e as capturas que foram feitas não parecem resultar em verdadeiras machadadas finais ao suposto "complot" organizado contra a Grande Nação...
Para isto, basta ignorar que o terrorismo, funcionando muitas vezes de forma descentralizada, não necessita de um chefe, apenas de financiadores para dar apoio económico - e esses, arranjam-se aos magotes.
Para isto, basta dizer que tudo está bem quando os E.U.A. ganham a guerra e expulsam a encarnação do mal; e que isso se deveu a Bush. Basta esquecer que qualquer fantoche no mesmo lugar de Bush faria a mesma coisa, diga-se o que se disser. Basta esquecer toda a ignorância que Bush sempre demonstrou, basta esquecer tudo aquilo que se passou nos últimos tempos (desde o 11 de Setembro)... O que prova que cerca de 50% da população americana tem uns graves problemas de memória... Ou há uma forma defensável de apoiar aquele monstro??

Entretanto, para mostrar a supermacia, e, caros leitores, como forma de prever o futuro, leiam este pequeno artigo que veio hoje no JN. Prometo que se vão rir:
No feudo de George W. Bush

Prometeu

terça-feira, outubro 19, 2004

As greves do nosso povo

Para dia 20 encontra-se marcada mais uma manifestação/greve dos alunos universitários, reivindicando melhores condições de ensino, diminuição do preço das propinas, etc, etc... O costume!

Agora, por favor, analisemos mais de perto estas manifestações/greves que têm lugar nos regimes "democráticos". Temos umas quantas pessoas (estudantes, trabalhadores) que se reúnem e fazem saber os seus problemas e as suas preocupações, desejos e tudo o mais em relação à sua actividade laboral. Estas manifestações, normalmente, têm uma grande cobertura mediática (uma muito grande cobertura mediática...) e uma duração relativamente curta, já que, na maior parte das vezes, se trata apenas de uma manifestação onde se dizem as reivindicações e se vai embora de novo para casa. A pergunta que se pode fazer naturalmente é: o que é que se ganha com isto?

Bem, na verdade não se ganha realmente. As pessoas parecem ter perdido a noção de que, para que uma greve funcione, é preciso fazer uma pressão enorme sobre a entidade patronal, para que os prejuízos se avolumem e estes sejam obrigados a cooperar. O que se faz actualmente nada é comparado com as manifestações e greves de outrora, que chegavam a durar semanas, quando não mais de um mês. Nessa altura em que ainda existiam estruturas que apoiavam as greves, e em que os sindicatos eram algo mais do que o intermediário patronato/empregados bem ao estilo fascista! O que se desenrola agora são apenas pequenos espetáculos de pouca monta, que acabam por ter repercussões bastante pequenas na vida dos trabalhadores, que pouco afectam quem realmente detém o poder. É claro que transmite sempre uma imagem mais negativa do Estado ou da entidade patronal, mas passa por pouco mais do que isso... E, como já tive oportunidade de considerar, entra um e sai outro mas é numa de "vira o disco e toca o mesmo"; o que nulifica ainda mais os verdadeiros resultados.
Voltando ao caso da próxima greve universitária, adensa-se ainda mais a questão da inutilidade. Sendo que os alunos não têm qualquer utilidade na lógica de produção, o peso de uma greve estudantil é, por assim dizer, nula! É claro que podem sempre aproveitar para se distrairem das aulas com uma suposta desculpa... Mas em termos de resultados práticos, e como é bom de se ver pelo estado do ensino em Portugal, eles não existem.
Prometeu
PS - Para um desenvolvimento do assunto paralelo a este, vejam o meu post Sobre a História dos fracos.

quarta-feira, outubro 13, 2004

Análise do papel da comunicação social

Estando intimamente ligado a esta área, não posso deixar de aqui por um link para o mais recente post de "o uno e o múltiplo" - aqui. É aqui analisada a forma como os poderes económicos têm uma importância crucial na forma como somos (des)informados; bem como a própria acção dos media sobre a informação veiculada. Ou sobre a manipulação da informação, que vai dar ao mesmo.

Com a emergência de um afastamento dos pólos do Estado e de todos os outros domínios do Social, em especial a partir da Idade Moderna e pós-Moderna, criou-se um espaço intersticial entre estas várias facetas. Este espaço, não sendo um domínio próprio, mas apenas a falta de domínio, é o meio pelo qual os vários sistemas sociais comunicam, mas também a forma como a sociedade comunica com esses mesmos sistemas sociais. Servindo ao mesmo tempo como controle e como meio de intercomunicação, e sem um grande controlo por parte do que quer que seja, acabou por ganhar consciência da sua importância e acabou por ganhar consciência do que poderia fazer e de como poderia adquirir uma certa hegemonia simbiótica com os outros sistemas. E assim temos os media (o tal meio, o meio de comunicação entre sistemas, o interstício que surge da delimitação dos sistemas) a ganharem controlo sobre certas facetas da política, economia, e, acima de tudo, a conseguirem controlar a formação das massas.

Mas bom... não se fiquem por aqui e consultem o post que linkei.

Prometeu

terça-feira, outubro 12, 2004

"Barril de Brent passa barreira dos 50 dólares"

Jornal de Notícias: "Barril de Brent passa barreira dos 50 dólares"

Pois é... O barril de crude passou já os 51 dólares, até! Ora, isto é uma coisa muito má, porque vemos o valor dos títulos de transporte sempre a aumentar, certo? Bem, sim, mas resposta incompleta... Não é só isso que é afectado. Aliás, se isto continua assim, o nosso querido Santana pode dizer adeus à retoma, e ao que quer que seja. Não sou de todo letrado em economia, mas percebo o suficiente para escrever este post. O que temos aqui faz lembrar um período da economia em que se deu a estagflação (quando os países islâmicos começaram a usar o petróleo como arma política, lembram-se?... quando esta história toda começou!). Normalmente, numa crise capitalista "standard", o que acontece é um excesso de produção gerada por um mau cálculo das capacidades de absorção do mercado, que leva a um acumular de stocks, baixa de preços, despedimentos, destruição de stocks e uma data de dores de cabeça por aí adiante. O que me interessa aqui salientar é a descida dos preços... a descida tão brutal dos preços que são obrigados a destruir stocks para evitar uma queda absoluta dos preços!

Porém, nos períodos da estagflação, e não estamos muito longe de um período económico semelhante, a estagnação da produção (que também se verifica no exemplo acima, é por isso que há despedimentos ... isto faz lembrar alguma coisa, esta palavra? ...) é acompanhada por um aumento dos preços. Ora, chatice das chatices! Então temos: uma data de gente a ir parar à rua, a produção a diminuir em flecha, e os preços a subir! (Mais uma vez... o que é que isto faz lembrar, gente?) E isso porquê? Bem, por uma coisa muito simples - o preço do petróleo, que funciona não só para pagar os meios de transporte mas também os próprios meios de produção, aumenta, aumentando portanto o custo de produção. Ora, custo de produção mais alto é igual a preço de venda mais alto. Mas para controlar os custos, são obrigados a despedir pessoas. Portanto, temos menos pessoas com capacidade de consumir, que são obrigadas a comprar produtos mais caros - até poderem... - e que, por não terem dinheiro, não podem consumir e não podem reactivar a circulação de capital. As empresas, tristes porque não têm ninguém que compre e têm um balúrdio a pagar em despesas, despedem mais pessoas, diminuindo assim as próprias probabilidades de lucro. Alguém se importa se eu chamar a isto um funcionamento auto-destrutivo? É claro que não preciso de continuar para os meus sapientes leitores verem que isto conduz à desgraça, pois não?

Como vivemos num sistema capitalista, a única maneirazinha santa de sair desta porcaria é mesmo o auxílio do nosso grande amigo, o Estado!! E quem é que temos à frente do nosso grandioso Estado, para nos ajudar?! O nosso ainda maior amigo, o Santana!! Façamos todos uma festa! ...De despedida, claro... E não se esqueçam de pôr a tocar a "Marcha Fúnebre" de Chopin!

Se algum leitor economista quiser adendar, por favor faça-o para informação de todos. Pode ser que a nossa ruína esteja mais longe... Ups, esqueci-me que nós já estamos arruinados! Ora bolas...

Bom, agora passando ao último tema... De quem é a culpa? Bom, o artigo identifica algumas possíveis fontes... Mas será que, com um pouco de esforço não nos conseguimos lembrar de mais um palhaço que tem andado a mexer no ouro negro? Só mais um... e com ele mais de uma centena de países, claro! Desculpem lá mas... ASSIM NÃO DÁ!!!

Prometeu

domingo, outubro 10, 2004

Mais um parêntesis

Ora bem, é consternado que verifico que o meu texto não mereceu um único comentáriozinho, bom ou mau. Por ventura estão os leitores de "O Fogo de Prometeu" tão habituados a conteúdos políticos que desprezem quaisquer outros conteúdos? Por favor, queridíssimos leitores, já que não se manifestaram, gostaria de saber o porquê desse silêncio!

Prometeu

Debate sobre a verdadeira influência dos Blogs

o uno e o múltiplo: "Mais do Mesmo"

Temos aqui uma análise, também por mim comentada, sobre o impacto real dos blogs. Será que estamos imbuídos de uma grande força de divulgação que se está a espalhar aos 7 ventos digitais, ou têm destaque apenas alguns figurões da política real, mais as suas ideias enlatadas? Venham descobrir a resposta! Melhor do que isso, venham contribuir para a resposta!

Prometeu

PS - Link correctamente actualizado. Anátema, as minhas desculpas!

sexta-feira, outubro 08, 2004

"Arrependimento"

Não satisfeito com ter conseguido a publicação on-line da minha dissertação sobre o aborto, enviei um outro texto, desta vez de lavra literária (sim, que eu não faço só crítica sócio-política e filosófica!) Seja ou não publicado, não é de maior importância. Mas aproveito para publicá-lo neste meu espaço, confiando que vós me dareis a vossa sincera opinião.

Arrependimento

Enquanto sentia o calor da água do banho em que estava deitado, sentia também um abandono quase etéreo do meu corpo. O desfalecimento dos sentidos, o abandonar do vigor da vida... o torpor que se sente sempre nestas ocasiões em que a mente relaxa e o corpo a acompanha... Olho para cima, olho para o tecto branco que está agora carregado de humidade (ou, pelo menos, assim o adivinho... a minha miopia não me deixa ver realmente aquilo para onde olho – nisto, como noutras coisas, a nossa biologia muito se aproxima da nossa metafísica, e aquilo que vemos por nós mesmos não é senão uma pálida e confusa massa daquilo que existe realmente).
Depois, como um acto de uma vontade externa a mim que se impõe, começo a pensar no tempo que vivi, nas coisas que vi enquanto deambulava por um mundo alienígena. Penso nas pessoas que vi, que conheci, que amei e odiei, que senti sempre tão longe, tão afastadas de mim por uma qualquer invisível parede...

(A minha mente começa a perder a capacidade de se concentrar numa só coisa, e agora é a música que me entra pelos ouvidos que se destaca, uma música específica que se repete: ouço London After Midnight, ouço o vocalista a dizer:

“Is this life, this degradation?
Pointless game, humiliation…
Born to die, we’re born to lose
And not one choice we make we choose”…)

Só consigo pensar que ele tem razão. Um jogo sem sentido, no qual cada um de nós é individualmente vencido, derrotado por todas as forças que se conjugam no momento do nascimento e no momento da morte se afastam.

Passaram apenas alguns segundos desde que tudo começou, mas parecem horas que se arrastam pelos corredores dos hospitais em penosas queixas e murmúrios de insatisfação... Olho para a água que rodeia o meu corpo nu: o seu tom rosáceo torna-se divertido aos meus olhos! Só de pensar que, como numa espécie de retorno, também este ambiente tem essa cor reconfortante, rodeada pelo branco dos azulejos... Um pouco como a maternidade que me viu nascer. Um pouco como um segundo nascimento, mas, desta feita, um nascimento consciente de outra ordem, de uma diferente importância para quem sou.

Começo a sentir a tal sonolência. Benfazeja, já te esperava há muito! Fiz tudo para que te pudesses instalar, e mesmo assim tanto tempo que tu demoraste! As pálpebras cerram-se. Largo o x-ato que tinha na mão esquerda... A dor do pulso direito torna-se, ao mesmo tempo, maior e menor; oscila segundo a minha consciência vacilante.

Subitamente, uma ideia! Todas as escolhas que fiz, fui eu a fazê-las, fui eu que escolhi escolher, fui eu que nasci livre e que assumi a minha liberdade, há muito tempo atrás, sentado na cadeira de uma aula de Filosofia! Então existia ali algo que poderia ser explorado, algo que tinha de ser vivido!

Ou não... Ao longe, o sino da igreja assinala as três horas da manhã... Mais perto de mim, o ribombar frenético de pancadas violentas na porta trancada, que apenas escuto parcialmente. Os meus lábios articulam a palavra “desculpa”.

Prometeu

quarta-feira, outubro 06, 2004

Novela, má porquê?

Aquilo que muitos vêem como apenas mais um divertimento vai muito para além desta realidade. As telenovelas pretendem emular correctamente a realidade, ou, pelo menos, uma parte da realidade... O problema é que, mais uma vez, acabam por se mostrar incompletas naquilo que demonstram e obedecem a uma estrutura narrativa que não se reflecte na vida real. Além do mais, criam certas ilusões sobre como as coisas são ou devem ser, criam falsas expectativas que depois se vão transformar em más directrizes para quem vive viciado em tais coisas.
O vício em si é um dos grandes problemas: como já referi no post anterior, o que se trata aqui é de alienação massificada, de adormecimento das massas para que estas não incomodem os poderes instituídos. Mais uma vez, a acção da deseducação em toda a sua potência. Quando é que pararemos de consumir isto de uma vez por todas? Como é que se consegue reeducar quem nem sequer sabe que tem uma falsa educação?

Prometeu

terça-feira, outubro 05, 2004

É realmente uma quinta, sim!

Apesar dos apelos da comunidade blogger para ignorar aquele novo pseudo-programa da TVI, não o posso fazer. Trata-se aqui da mais flagrante oportunidade de expôr de forma auto-explicatória aquilo que tem de se condenar quando se fala em conteúdos televisivos e de controlo. É precisamente por esta via que a ideologia dominante procura controlar e adormecer as consciências da generalidade. E se é verdade que alguns se recusam a olhar para este tipo de lixo, é também verdade que uma esmagadora maioria está viciada neste tipo de conteúdos. Entre reality shows, telenovelas, e mais o jornalismo de meia-tigela que seca todos os pormenores (em especial os mais insignificantes), estamos perante uma tentativa de tentar transformar as pessoas em autómatos acéfalos. O que se passa é que, ao gerar conteúdos que são "interessantes", se está a retirar o poder de decidir e de pensar em algo realmente interessante, naquilo que verdadeiramente importa. Os temas de conversa diária mudam de uma inutilidade para outra, sem nunca se focarem no essencial. Assim se cria toda uma cultura de "analfabrutismo" - sabem ler e escrever, mas desconhecem como usar as suas funções para pensar aquilo que os rodeia.
Pior do que isso, neste caso, está-se a tentar estabelecer um modelo de sociedade que é completamente absurdo. Qualquer pessoa que veja o Castel-Branco a falar deveria ter vontade de lhe cortar a língua, não de o tentar imitar. Porém, a imagem que se quer transmitir, a mensagem subjacente é a de que é assim que a "alta sociedade", o "jet-set", se comporta e, portanto, é assim que toda a gente se deveria comportar. Para além da figura supra-citada, podemos também refastelar-nos com todos os outros e outras pessoas que, julgando-se melhores que aqueles que os rodeiam, são na verdade "a meta da decadência"! Incapazes de ver isso, muitos procuram depois emular tais comportamentos, tais personalidades, modas e corpos. Assim, a energia dispersa-se!

Remédio: pega-se nos animais e leva-se para o matadouro!

Prometeu

P.S. - Sobre as novelas, falo amanhã! Não pode ser tudo ao mesmo tempo. Tem que se ir fazendo render...